O homem que quase matou Getúlio Vargas

Por Lorena Krebs

Há quem o odeie, há quem goste muito dele, e há quem – honestamente falando – não o conhece, mas gosta muito do que ele escreve. Por vezes é um apresentador polêmico, ou se ele vai com a sua cara, é a simpatia em pessoa, mas também é um apresentador que me surpreendeu com o que é capaz de escrever, afinal, para os que não sabem, Jô Soares não é apenas o cara que manda o “beijo do gordo” toda noite, é também um dos escritores brasileiros atuais que mais conseguem fazer você se envolver com a trama.

Veríssimo fala que Jô Soares é “um grande fazedor de tipos”, para quem já leu algum livro dele, bem sabe que isso é verdade. Seus livros – ou pelo menos todos que eu li até agora – misturam ficção com a realidade de uma forma brilhante e coerente, e esses “tipos” por ele construídos se encaixam no contexto de uma forma tão natural que parecem ter estado lá o tempo todo, e só você que nunca os percebeu nos livros de História.

Um desses personagens, que nasceu para ser “assassino profissional”, mas nem por isso deixa de ser cativante, lembra para muitos o Forrest Gump, não pela inocência dele, mas pelo fato de ser extremamente desastroso, e tudo na vida dele reflete isso, e, você sempre tem em mente que algo de errado vai acontecer, só não imagina as formas absurdas e cômicas que darão vida aos erros dele.

E desde o nascimento de Dimitri Borja na Bósnia, protagonista do livro “O homem que matou Getúlio Vargas”, até a sua chegada ao Brasil, a vida dele segue uma linha de desastres atrás de desastres, desde colocar seus dois dedos indicadores no gatilho e não conseguir atirar no Francisco Ferdinando, príncipe do império austro-húngaro, a subornar os jurados errados para salvar Al Capone, salvando, ao invés, a pele de uma velhinha que tinha atropelado um cachorro.

A história conta com a presença de muitas figuras ilustres, e, mesclado com fatos reais de cada um, está também Dimitri, que por acasos do destino nunca consegue realizar o que tem que fazer, e, consequentemente, as coisas de fato acontecem como aconteceram. Marie Curie, Mata Hari, Franklin Roosevelt, Jean Jaurés, George Raft, são alguns dos “personagens” deste livro.

Um fato interessante do livro, e muito bem encaixado na trama, é que a mãe de Dimitri, Isabel, é filha ilegítima do coronel Manuel Vargas, pai de Getúlio Vargas, e apesar disto, Dimitri se tornou o homem que quase matou Getúlio Vargas. Repleto de “quases” inusitados, o livro passa a história, tanto a real quanto a de Dimitri, de uma forma leve e intrigante, deixando sempre o riso presente nas faces de quem o lê.

Com um pouco de som – fotografa mostra que não é preciso apenas “o olhar”

Por Lorena Krebs

Toda vez que eu comecei a aprender a fotografar eu escutei sempre a mesma coisa “tem que treinar o olho”. É claro, tem que ter um ângulo legal, tem que enquadrar, ajustar o foco, o zoom, arrumar a lente de uma maneira que a luz fique legal, mas, acima de tudo tem que treinar o olho para aqueles momentos que passam instantaneamente, para aquele ângulo que ninguém mais percebeu, para aquele pequeno detalhe que faz diferença dentro de uma multidão.

Nunca treinei meu olho, mas também nunca revelei boa parte dos meus filmes, quem sabe um dia na velhice eu descubra que eu tinha futuro – deixo pra velhice porque, eu realmente tenho minhas dúvidas quanto as minhas habilidades fotográficas – entretanto, assim como talento pode ser aprendido, pode ser aprimorado, mesmo quando não se tem um dos sentidos mais necessários para tal.

É o caso da norte-americana Amy Hildebrand, que nasceu cega e, após umas cirurgias passou a enxergar algumas cores, sombras e formas, e, mesmo sem uma visão total, fez da fotografia uma das coisas mais importantes de sua vida. Ela decidiu fazer um blog para postar as fotos, a ideia era fazer um blog com 1000 fotos, cada dia, uma foto.

Confesso que a primeira vez que me deparei com esse blog (http://withlittlesound.blogspot.co.uk/) eu não acreditei muito que ela fosse cega – a época não sabia que ela não era mais totalmente cega – ou que as fotos eram livres de qualquer edição, a luz de boa parte das fotos me lembrava uns efeitos muito comuns em programas de edição.  Mas, o nome do blog é realmente algo que diz muito, uma vez que quando um sentido se encontra ausente, ou parcialmente prejudicado, os outros passam a ficar cada vez mais aguçados.

Após algumas pesquisas, até mesmo dentro do blog, dava para perceber a diferença nas fotos, e, diria até uma evolução na forma como ela capturava os momentos de seus dias, passei então a acreditar que talvez não tenha dedo de edição nas fotos, afinal, algumas imagens carregam um ar… não sei, natural demais para terem sido editadas.

E, mesmo não sendo fotografias do Sebastião Salgado, ou do Henri Cartier-Bresson, vale a pena conferir o trabalho, principalmente os últimos meses, os quais, acredito eu, tem as melhores fotos dentre todos os meses que eu vi.

O Guia do Mochileiro das Galáxias: um clássico sobre planetas, grandes questões e toalhas

Por Lorena Krebs

Tão essencial quanto ter um guarda-chuva a mão em um dia chuvoso, é ter uma toalha, mas não apenas em dias chuvosos, seja lá qual for o tempo e em qualquer lugar do espaço, ou pelo menos é isso que afirma o Guia do Mochileiro das Galáxias, um dos melhores livros de ficção científica lançado nos últimos tempos.

O pedido, mais do que justo, “não deixe a Terra sem ele”, é atendido de uma forma espetacular quando Douglas Adams, o escritor que passava mais tempo fazendo qualquer outra coisa do que escrevendo, transforma a aclamada série de rádio em uma trilogia de quatro livros. Mas, por partes, só se pode falar do todo depois de falar do começo.

A história d’O guia do mochileiro das galáxias começa em um longínquo e inofensivo ponto do espaço, num planeta que gira em torno do sol e é cheio de habitantes estranhos e infelizes, que buscam incessantemente pela resposta do por que existem, ou qualquer outro porque que ocupe a mente deles.

Acontece que, este planeta em questão, conhecido por alguns como Terra, era tão insignificante para todo e qualquer habitante do resto da galáxia, que poderia muito bem deixar de existir e dar lugar a um novo, e tremendamente necessário, desvio. E, ao mesmo tempo em que o fim da Terra se aproximava, Arthur Dent, um terráqueo que não tinha a menor ideia do que se passava fora da órbita da Terra – e, alias, não tinha a menor ideia de que poderia ter vida fora da órbita da Terra – só pensava em impedir que demolissem sua casa para, imaginem só, construir um desvio, também extremamente útil.

E é nesse contexto que Adams nos apresenta ao protagonista desta história, Arthur Dent, um inglês que não apresenta nada de extraordinário – mas que mesmo assim conseguiu um lugar dentre os meus protagonistas preferidos – as reações, praticamente inofensivas, que ele apresenta diante das coisas que ele pensava serem impossíveis é retratada de uma forma divertida, e fica evidente que, se o personagem não fosse tão comum e “preocupado”, como ele é, essas situações não teriam tanta graça.

A pessoa responsável por levar Dent a conhecer as maravilhas do Universo é um alienígena simpático de Betelgeuse, que veio para passar uma semana na Terra e acabou preso nesta por 15 anos, seu único objetivo era colher informações sobre a Terra para o Guia do Mochileiro das Galáxias – informações essas, devo acrescentar, de suma importância – e para tal fim, adotou um nome que julgou ser bem comum e que passaria despercebido, Ford Prefect.

Após a destruição da Terra é que de fato passamos a conhecer um pouco mais das galáxias, e dos seres que habitam nestas, como é o caso de Zaphod Beeblebrox, primo de Ford e atual presidente da Galáxia, que possui um ego maior que suas duas cabeças. Há também outro ser humano na história, mas que saiu da Terra muito antes que essa fosse “demolida”, Trillian (ou Tricia) McMilian e um robô depressivo – que, de alguma maneira estranha, me faz lembrar o Sheldon Cooper, de TBBT – Marvin, que veio junto à nave de improbabilidade que estes roubaram.

E, não entrem em pânico, além de personagens ímpares, é possível ter a resposta para a grande questão da Vida, do Universo e Tudo o Mais, mas isso não significa necessariamente que você irá entendê-la, até porque, aparentemente nunca foi formulada a pergunta certa na qual a resposta irá se encaixar.

Em suma, O Guia do Mochileiro das Galáxias é um livro que traz consigo pitadas de ironia e um humor inteligentíssimo, principalmente no que diz respeito a referências à humanidade e seus problemas. Nem por isso, é claro, irá agradar a gregos e troianos, mas sempre irá instigar para saber um pouco mais.

Fernando Sabino

Por Lorena Krebs

Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam: o que você quer ser quando crescer? Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, eu diria que quero ser menino” – Fernando Sabino

 

Fernando Sabino era assim, não precisava nem querer ser, que por natureza ele já era um menino. Seus livros refletem a simplicidade e a leveza que ele carregou consigo durante a vida.

Deparei-me com uma obra dele em meio a tantas outras de linguagem rebuscada e de um contexto do qual eu não fazia parte. E, é claro, obras essas que eu não gostava nem um pouco, apesar de serem clássicos. Machado de Assis, por exemplo, foi um dos autores que eu quis bem longe da minha vista um bom tempo. A leitura era quase que obrigatória devido a provas, mas isso não fazia com que todos lessem, e, ainda assim, dos livros que eu li naquela época, “O menino no espelho” parecia quase um presente.

Aquelas páginas conseguiram resumir boa parte dos sonhos de infância, e ao mesmo tempo dava asas à imaginação, reunia aquela sensação de que um dia, quem sabe, pudesse dar certo, por que não? Poderia muito bem acordar um dia e deparar com uma cópia quase perfeita, ou voar junto aos pássaros sem estar, de fato, dentro de um avião.

E essa, era apenas uma, dentre suas inúmeras obras. Com uma escrita viva e cativante, Sabino conseguiu, e ainda consegue, atrair muitos admiradores, que vivenciam cada palavra ali grafada, que mergulham em um mundo que parece lhes pertencer e, a cada lugar que Viramundo (O Grande Mentecapto) ia, o desejo era de estar ali, não apenas como um simples observador, mas como um figurante que fosse, apenas para poder falar que já fez parte de alguma peripécia que este, tão inocentemente, cometia.

Com obras tão ricas de detalhes, composta por contos, crônicas e romances, conquistava não apenas pelas obras fictícias, mas também pela realidade a qual relatava em suas crônicas, contando de suas viagens pelo mundo, e quase nos fazendo acreditar que o perigo não era tão constante assim devido a pitadas de humor e deslizes que apenas o criador de Viramundo cometia.

É difícil quem não se apaixone por literatura brasileira ou não lamente que as aulas de literatura não foquem também em autores como Fernando Sabino, que, não desmerecendo Assis, mas é tão importante quanto.