A Revolução dos Bichos: todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros

1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
2. O que andar sobre quatro pernas, ou tiver asas, é amigo.
3. Nenhum animal usará roupa.
4. Nenhum animal dormirá em cama.
5. Nenhum animal beberá álcool.
6. Nenhum animal matará outro animal.
7. Todos os animais são iguais.

George Orwell e a capa do livro

George Orwell, após voltar da Guerra Civil Espanhola como apoiador da Frente Popular, caminhava solitário pelo interior da Inglaterra quando viu um cavalo de tiro ser chicoteado por um jovem rapaz toda vez que tentava se desviar do caminho. Orwell percebeu que, se os animais tivessem consciência de sua força, nós não teríamos o menor poder sobre eles. Segundo Orwell, eles são explorados pelo homem assim como os trabalhadores braçais são explorados pelos ricos.

Apesar disso, Orwell achava que a única tentativa de reivindicação de poder pelos trabalhadores através da revolução armada, a Revolução Russa, havia falhado na sua proposta de representação de poder dos trabalhadores.

Partindo dessa premissa, Orwell resolveu criar um romance alegórico, através de uma sátira do comunismo, com o objeto de destruir o mito soviético, onde animais representariam humanos, classes sociais e sistemas econômicos.

Em uma fazenda na Inglaterra, assim como em muitas outras espalhadas pelo mundo, os animais são explorados pelos humanos. Então um porco, chamado Major (alegoria explícita de Karl Marx) percebe e teoriza essa exploração, e conclama todos os animais a derrubar seus opressores, os humanos (na real life, os ricos). Logo depois, Major morre, e a sua mensagem é adotada pelos animais mais cultos e intelectualizados, os porcos (os comunistas).

Os porcos, através dos cavalos (que aqui representam os trabalhadores braçais, o proletariado), conseguem expulsar os humanos da granja e logo assumem o controle político da fazenda. Logo, dois porcos assumem a linha de frente: Bola-de-Neve (que aqui representa Leon Trotski) e Napoleão (alegoria de Stálin). Napoleão começa a criar filhotes de cães para treinamento (doutrinação). Bola-de-Neve e Napoleão travam intenso combate político para governar a fazenda de modo diferente. Logo, os cães crescem e Napoleão manda os cães (exército) correrem atrás de Bola-de-Neve, que sai correndo com os cães atrás dele, e some no além. Depois desse episódio, Bola-de-Neve nunca mais foi visto na fazenda.

A partir daí começa uma era autoritária de Napoleão à frente da granja. Com o passar do tempo, todos vão se esquecendo dos ideais originais da revolução, que aos poucos foram sendo substituídos por ideais totalitários e de adoração os porcos, e uma nova época de obscuridade se inicia na granja.

Os animais representam o socialismo e os humanos representam o capitalismo. O livro foi enviado por Orwell às nações devastadas pelo stalinismo, principalmente à Ucrânia, onde foi símbolo da luta dos ucranianos contra a poderosa União Soviética. Até hoje o livro é proibido na China, na Coreia do Norte e em Cuba, por motivos óbvios, assim como nos países islâmicos autoritários.

O livro é excelente e tem uma fluidez impressionante. É rápido, mas ao mesmo tempo permite profundas reflexões sobre o mundo atual e sobre o século XX. Cada gesto de cada personagem tem uma representação muito forte dentro do contexto da geopolítica mundial, assim como da nossa vida particular.

Alguns anos depois de publicar A Revolução dos Bichos, Orwell publicaria aquele que viria a ser seu romance mais famoso sobre autoritarismo: 1984. O autor, quando decidiu escrever A Revolução dos Bichos, talvez não tivesse ideia do impacto que ele causaria, e que ele ficaria como um clássico eterno. Uma obra-prima.

4. Nenhum animal dormirá em cama com lençóis.
5. Nenhum animal beberá álcool em excesso.
6. Nenhum animal matará outro animal sem motivo.
7. Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros.