Temperos cuiabanos

Cuiabá adora comer fora – e há opções para todos os gostos

Por Marcelo Dantas

Nem o calor, nem a distância e, por vez, nem o dinheiro, impedem o morador de Cuiabá de comer fora. Cuiabá gosta de comer. E muito. E gosta de sair para comer. Há opções para todos os gostos e bolsos, e isso é bom — isso faz crescer a oferta de comida e melhorar o padrão dos restaurantes, bares e baguncinhas.

A prova é o sucesso de empreendimentos como o Coloiado, na Tancredo Neves, que reúne contêineres com as mais diversas opções gastronômicas possíveis — e vive lotado. O fato é que a comida sobre rodas parece ter seduzido nossa capital: ao cair da noite, os furgões raiam nas ruas, e estão sempre cheios.

As hamburguerias também conquistaram a cidade: nos últimos dois anos foram abertos vários negócios no ramo, que passaram a competir com o ótimo Cozinha dos Fundos, no Boa; o arrojado Ray’s, na Cândido Mariano; e o delicioso Habañero (é demais!), na 24 de Outubro, o alegre reduto gourmet cuiabano.

Outra gostosa constatação foi o êxito do charmoso Flor Negra, na São Sebastião, que presenteou Cuiabá com uma cozinha primorosa, sob a maestria da talentosa chef Ana Carolina Manhozo, que recentemente brilhou no Ateliê dos Chefs, uma iniciativa bem acertada do Nuun Garden. Sobre acertos, um japonês se destaca: o Mirai, no Florais Mall, é de um raro bom gosto, e serve um cardápio surpreendente no almoço.

Na Generoso Ponce, o Armazém Cuiabano tem deslanchado sob o dom e o zelo do Gustavo Caldas, que oferece guloseimas regionais num ponto que está na família dele desde os anos 1940. A The Bread Lab, no Santa Helena, cativa com pães e pizzas artesanais, sob a habilidade do caprichoso Lúcio Almeida. E, quando o assunto é croissant, tenho duas opções: a primeira é Paris, na França, a 9 mil km de casa; a segunda é a BakeHouse44, na Filinto Müller, padaria do Marcelo de Oliveira, que dista 6 km do meu bairro. Croissant é uma coisa difícil de ser feita, e o Marcelo faz o melhor.

Se croissant já é complicado, macaron é um desafio. De origem italiana, a iguaria chegou à França no século XVI, e só em meados do século XX ganhou a forma como conhecemos hoje. A receita demanda ingredientes bem específicos. Exige precisão e cuidados absurdos. É um dos meus doces prediletos, e nos últimos tempos tenho colecionado mais frustrações do que alegrias. Mas os da confeitaria Sweeterella, na 24 de Outubro, não falham.

A pâtisserie foi aberta há um ano pela carismática chef Tais Milan, 33. Cuiabana, largou a faculdade de Farmácia para se formar em Gastronomia, e se especializou em confeitaria em aclamadas escolas na França, Inglaterra e nos Estados Unidos. Seu noivo, Jorge Peralta, 29, peruano, é barista formado pela conceituadíssima Le Cordon Bleu. O chocolate é belga, o premiado Callebaut. O doce de leite, argentino. A baunilha é verdadeira — assim como o bolo de casamento, cujo pedaço pode ser guardado para que o casal siga a clássica superstição.

E já que estamos lá, é oportuno aproveitar o singular crème brûlée, e pedir um expresso ou cappuccino (os grãos são da centenária Fazenda Pessegueiro, em São Paulo). A loja é agradável, e o entusiasmo da chef é contagiante.

Se a culinária é a arte de fazer obras-primas que logo se desfazem, como já disse Drummond em algum lugar, Cuiabá está, sem sombra de dúvidas, repleta de artistas.

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* Marcelo Dantas Ribeiro é bacharel em Direito pela UFMT e adora comer | mdrlv@me.com

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