“QUE OBESA O QUE”: inferno astral e o desabafo de uma jabuticaba

Por Felipe de Albuquerque

Não dá pra saber ao certo quando começa. Princípio e meio se imiscuem, não palpáveis, inidentificáveis. O fim é mistério. A autopercepção de que algo está acontecendo pode vir depois de uma noite mal dormida e que paira sobre os nossos corpos como uma nuvem cinza ao longo do dia. Ou ainda pode ser que venha como um vento forte que atravessou a vida no meio da tarde insossa de um domingo. Talvez chova em algum momento.

Comigo foi mais ou menos um pouco das duas situações. Adormeci depois de uma sesta despretensiosa e quando acordei já senti a mente cheia de uma primavera monocromática. Doía a cabeça, mas a alma também. Segui os dias, mesmo indisposto, equilibrando o destempero com as obrigações da vida. Aos poucos, foi se evidenciando um desdobramento que não se encaixava muito bem na forma original. Se eu pudesse, talvez tivesse me isolado dos outros e de mim para refletir sobre este fenômeno, como quando tentei (e falhei), correr para o banheiro do trabalho para ficar em silêncio por uns instantes, encostar a cabeça na parede de azulejo gelado e não pensar em nada. Até as luzes automáticas se apagarem e eu precisar me movimentar novamente para sair de lá. Continuar lendo ““QUE OBESA O QUE”: inferno astral e o desabafo de uma jabuticaba”